domingo, 1 de novembro de 2015

Tradições importadas...e depois?

As nossas tradições são todas boas. As dos "estrangeiros" são recebidas como algo exótico ou, na pior das hipóteses, "americano". 

Para alguns de nós, europeus, o "americano" festeja tradições que nem sequer o são, pois  duas centúrias  não chegam para elevar mais alto uma única árvore genealógica. Neste e noutros aspectos,  a nossa arrogância eurocêntrica compete com a dos E.U.A, que quase ordena a Pax Americana, por meio da imposição universal da democracia.

Nós, os europeus, adoramos a deusa Europa, parideira de respeito por ter dado à luz Leonardo da Vinci e Albert Einstein, Marie Curie e José Saramago. E porque não falar de Hitler, aquele grande estadista? Para ao europeu de Direita, o americano puro tem um ligeiro atraso mental, come gelado em baldes de cinco litros e vota mal. Para a Esquerda, os americanos são capitalistas, não separam os resíduos, são belicistas desde a creche e votam mal. No geral, tanto à Direita como à Esquerda, "os americanos" são um punhado de crianças hiperactivas com défice de atenção, a que todos os assuntos interessam, dado os estudos científicos que escorrem pelas paredes das respectivas Universidades. Crianças que inventam coisas do nada (uma Nação poderosa, por exemplo) e, como no caso do Haloween, inventam reuniões de mascarados na véspera do Dia de Todos os Santos. 

No capítulo das tradições, então, tanto as formigas europeias dos carreiros à Direita, como as dos carreiros à Esquerda, clamam bem alto a sua indignação perante aquela festividade "americana" chamada Halloween, algo que terá tanto de extemporâneo como de  ignóbil, ao ganhar importância sobre a catequese ou a Festa do Avante. Eu, Encantadora, sempre embrenhada nos meus calhamaços, faço o seguinte  aviso à navegação: o cristianismo absorveu as festividades pagãs, como sucedeu com a celebração do Solistício de Inverno, "transformada" em Natal; foi a cultura judaico-cristã que, afinal, dissolveu tradições ancestralíssimas, e não o contrário. E para quem o Halloween é uma importação macabro-capitalista do "americano", cai-lhe em cima esse mesmo factor, o da ancestralidade. Antes dos "ismos", acendiam-se fogueiras de Beltane por todo o território Celta. Caras formigas: de nada nos serve acirrarmos quezílias quando se trata de validar, com o selo europeu, "o que vem de fora", usando-se a frase mais provinciana alguma vez pronunciada.

As nossas tradições, queridas formiguinhas amantes de touradas, matanças de porco em adro de igreja e assamento de gatos em postes, envolvem sangue verdadeiro. Quanto a mim, prefiro o falso que irei decalcar na minha pele para ir à festa de Halloween a que fui convidada. Uma adaptação caseira do Samahain, a Festa dos Mortos, igualmente celta. Também a seu tempo substituída pelo Dia de Todos os Santos (movido para esta data), em decreto promulgado pelo Papa Gregório III (835 d.C.).

Irei festejar também em memória dos meus antepassados, os celtas de uma europa antiga, porém bem mais tolerante e, como hoje se quer, uma europa laica.

Também podem ler: http://observador.pt/2015/10/30/a-historia-do-dia-de-todos-os-santos-que-quase-morreu-com-o-halloween/

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