O Céu é dos Violentos?
A morte perdoa tudo? Até mesmo os criminosos têm reservado um lugar no Céu? O co-piloto que desfez os 150 seres humanos a bordo de um airbus 320, pelo seu embate num dos picos dos Alpes Franceses, também lá deve estar. Mas, especificamente, aonde? Encontrar-se-á no mesmo Céu dos bons e compassivos? Todas a teologias, não somente a Cristã, justificam-se em parte pelo culto a uma figura da Bondade e Misericórdia infinitas. Mas a história contemporânea revela-nos que os idólatras reverenciam uma outra deidade: o Mal, e no seu estado mais puro. Mas, mesmo aqueles, ganharão o Céu.
Queridas amigas formigas pensadoras, confesso a minha descrença, seja no Bem absoluto, seja no Mal que automaticamente se redime, face à morte dos seus delegados terrenos. A minha crença reside no acto de Pensar, o mesmo que nos confirma perante a Vida como seres dignos da nossa humanidade. Pensemos, então, a uma distância ecológica de todas a teologias que, por vezes, parecem existir somente para nos confundir.
O piloto que interrompeu a vida de 150 pessoas, agiu porque envolto na bruma da depressão. Mas tal não ajudará a sublimar a dor dos familiares e das vítimas. Agora, o Céu dos violentos parece ter a dimensão e a aparência de um gigantesco, cemitério. Pois, que assim seja: que o Céu atraia para si todos os violentos da Terra. Todos. Deixem o Céu para os violentos, que eles se deleitem com banquetes e outras bem-aventuranças, sobre as campas daqueles que ajudaram a dizimar. Nós, os herdeiros desta Terra, transformaremos as ruínas em lugares de Paz. Dispensamos, de viva voz, ascender a um lugar tão abstracto e, contudo, tão violento e limitador da crença na Humanidade.