sábado, 28 de março de 2015

"O Céu é dos Violentos" ( S. Mateus)

O Céu é dos Violentos?

A morte perdoa tudo? Até mesmo os criminosos têm reservado um lugar no Céu? O co-piloto que desfez os 150 seres humanos a bordo de um airbus 320, pelo seu embate num dos picos dos Alpes Franceses, também lá deve estar. Mas, especificamente, aonde? Encontrar-se-á no mesmo Céu dos bons e compassivos?  Todas a teologias, não somente a Cristã,  justificam-se em parte pelo culto a uma figura da Bondade e Misericórdia infinitas. Mas a história contemporânea revela-nos que os idólatras reverenciam uma outra deidade: o Mal, e no seu estado mais puro. Mas, mesmo aqueles, ganharão o Céu.

Queridas amigas formigas pensadoras, confesso a minha descrença, seja no Bem absoluto, seja no Mal que automaticamente se redime, face à morte dos seus delegados terrenos. A minha crença reside no acto de Pensar, o mesmo que nos confirma perante a Vida como seres dignos da nossa humanidade. Pensemos, então, a uma distância ecológica de todas a teologias que, por vezes, parecem existir somente para nos confundir.

O piloto que interrompeu a vida de 150 pessoas, agiu porque envolto na bruma da depressão. Mas tal não ajudará  a sublimar a dor dos familiares e das vítimas. Agora, o Céu dos violentos parece ter a dimensão e a aparência de um gigantesco, cemitério. Pois, que assim seja: que o Céu atraia para si todos os violentos da Terra. Todos. Deixem o Céu para os violentos, que eles se deleitem com banquetes e outras bem-aventuranças, sobre as campas daqueles que ajudaram a dizimar. Nós, os herdeiros desta Terra, transformaremos as ruínas em lugares de Paz. Dispensamos, de viva voz,  ascender a um lugar tão abstracto e, contudo, tão violento e limitador da crença na Humanidade.

quinta-feira, 26 de março de 2015

Fora do carreiro

Querer sair do carreiro é uma coisa. Como fazê-lo, é outra. Obter independência financeira, eis a primeira e falsa prerrogativa, já que tal se encontra reservado aos bons e maus ladrões ou, na melhor das hipóteses, a uma herança-surpresa. Outro pensamento mágico é julgarmos-nos capazes de agir no sentido de nos vermos livres de constrangimentos e responsabilidades. Vai daí apresentamos demissão do nosso emprego. De seguida, arranjamos um namorado/a mais novo e portanto na mesma sintonia irresponsável. Junte-se a isto a compra de todos os livros de auto-ajuda com títulos disparatados tais como, "Mude a sua vida em 5 minutos", com as respectivas receitas para a liberdade pessoal. 
Ora, na opinião desta Encantadora, tal pode muito bem ser um bilhete só de ida em direcção à pobreza ou, pior, ao internamento num hospício por depressão severa. 

Queridas amigas formigas, sugiro-vos um Encantamento: abrandem o vosso desespero. O desespero paralisa-nos a mente. Falamos de um carreiro, num pensamento único, ou mesmo na ausência de qualquer pensamento. Daí a necessidade de exercitarmos o acto de pensar. Não aceitamos que nos digam como devemos mudar ou então como devemos contornar a infelicidade. Seja um livro, um guru, ou mesmo um auto-proclamado profeta. Confiamos na nossa intuição (tão subvalorizada nas escolas), no nosso bom-senso. Valorizamos o que sabemos, o que aprendemos. Agradecemos aos amigos e supostos inimigos (principalmente a estes últimos) o facto de terem participado deste acumulo de experiências. Clarificamos os erros, sem nos armarmos em juízes de nós próprios. Em conclusão, pensamos e logo existimos fora do carreiro, assim transformado na mais pura ilusão.