segunda-feira, 11 de julho de 2016

Anjos no desemprego


Não acredito em anjos, mas que eles existem, existem.

Relembro os anjos de Wim Wenders.  Encostados aos ombros dos leitores de uma biblioteca em Berlim, escutam o redemoinho dos pensamentos humanos. O filme?  "As Asas do Desejo", obra-prima do cineasta alemão e vencedora do Festival de Cannes, em 1987. Aqueles anjos apenas e tão-somente, escutam. Numa postura séria, porém compassiva. Ouvir para tentar perceber, para tentar compreender. A dada altura crescemos e ao mesmo tempo deixámos de os ver. Porquê?

«Quando a criança era criança
andava a balançar os braços,
desejava que o riacho fosse rio e
que o rio fosse torrente e
poça d'água, o mar

Quando a criança era criança,
não sabia que era criança,
tudo era vida e
a vida era uma só!»

Suspensos nos prédios sobranceiros à cidade de Berlim, Damiel e Cassiel captam os diálogos interiores de todos nós.  E observam. E acompanham. Apenas interferem no momento que precede a tragédia. Ou colocam a cabeça do moribundo no seu colo, quando a mesma se desenlaça. A função dos anjos do cineasta Wenders, figuras mudas nos seus sobretudos de Inverno, é registar as Eras e, mais uma vez, compreender de que modo a humanidade usa o tempo legado sobre a Terra, como combate e ama, como desafia a morte e abraça a vida.
As Asas do Desejo, 1987

Numa versão mais literal, temos o Anjo cristianizado que ampara e protege. Não se limita a escutar os pensamentos, como também nos sussurra ao ouvido antes de atravessarmos a rua. No instante seguinte passa por nós um camião desgovernado. Foi Deus, dizemos. Mas foi o Anjo, o anjo-da guarda que nos segura à beira do precipício. O anjo-fada Oriana, que tendo perdido as asas (mor do seu egoísmo), mesmo sem elas atira-se ao vazio para salvar uma velha cega. Sophia de Mello Breyner Andresen, o anjo da poesia.

Certa Encantadora de Anjos disse-me: os anjos choram. E choram porquê? Fazemos mal a nós próprios por simples sonegação da sua presença. Esquecemo-nos deles quando mais precisamos dos seus sinais, dos seus murmúrios de aviso trazidos pelo vento que agitam as folhas nos ramos. Quando o luar de Junho se levanta, a sombra do Anjo atravessa o disco branco nós, incautos, não o vemos. O nosso olhar está focado em tudo, menos no que acontece acima da linha do horizonte. Enquanto fazemos deslizar os dedos pelos nossos écrans tácteis, um Anjo espreita  sobre o nosso ombro. A tentar compreender o motivo de tanto fascínio. A ouvir sem entender.

Estes anjos estão todos no desemprego. Sentem-se substituídos por deuses menores.

Sentado numa biblioteca ou à uma mesa de um café,  choramos mágoas e arrependimentos. Enquanto isso, filas e filas de anjos desempregados e deprimidos dão a volta às esquinas infinitas do Tempo, aguardando um sinal. O nosso sinal: vem, preciso de ti. Preenche-me de Amor.

De regresso ao filme de Wenders, apenas as crianças percebem a presença dos anjos. Aliás, o filme tem início com a voz de Damiel (Bruno Ganz) a recitar "Lied Vom Kindsein" - Canção da Infância, de Peter Handke:

(...)
Quando a criança era criança,
era o tempo destas perguntas:
Porque eu sou eu e não tu?
Porque estou aqui e não ali?
Quando começou o tempo, e onde termina
o espaço? Será que a vida sob o sol nada
mais que é um sonho? Será que o que vejo
escuto e cheiro não é mais do que uma miragem
do mundo anterior ao mundo?
Será que o mal realmente existe
e pessoas realmente más?
Como é possível? Eu que sou eu, não existia
antes de existir e que alguma vez eu,
aquele que sou não serei mais quem sou? 
(...)
Quando a criança era criança
arremessou uma lança de madeira contra uma
árvore ainda balança na árvore até hoje.»

São as crianças, as mais pequenas, ainda a contratar os anjos. Sei de uma que ficava a olha para o ar e, de repente, apontava para algo invisível: está ali! Está ali! Um dia permiti-me olhar na direcção do pequeno dedo. E vi-o. Sim, vi-o. Usava um sobretudo escuro e olhava-me com amor.

Os meus anjos ainda choram pelo desejo de me serem úteis. São as asas do desejo que adejam em meu redor, o vento através das folhas, o suspiro de um velho no banco de jardim, o ruído da janela que se abre sobre o mar imenso. O Antes, o Agora e o Depois. O Devir.  Quando tudo era Vida e a vida era uma só. Quando pessoas e anjos eram apenas um. 

Caras amigas formigas: estamos sempre a tempo de sairmos do carreiro e elevar os olhos dos nossos écrans tácteis. Desse encantamento que nada traz de religioso, apenas uma fraca compensação por termos banido os anjos dos nossos abraços. Quando o nosso olhar se cruzar com o anjo à nossa mesa (Jane Campion), contactaremos, enfim, com todo o Universo.


4 comentários:

  1. Devido à temática, sinto este post de maneira especial. Anjos no desemprego é uma grande metáfora. Quase diria que se os anjos tivessem emorego, caiam-lhe as asas.

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  2. Devido à temática, sinto este post de maneira especial. Anjos no desemprego é uma grande metáfora. Quase diria que se os anjos tivessem emorego, caiam-lhe as asas.

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  3. Visita meu blog: www.assuntodehumanos.blogspot.com

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  4. CU DO MULHERES BOAS!!!!

    porno no cu
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    CU HINCHADO E MUITO, MUITO DESGRACIADAS!

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