Relembro os anjos de Wim Wenders. Encostados aos ombros dos leitores de uma biblioteca em Berlim, escutam o redemoinho dos pensamentos humanos. O filme? "As Asas do Desejo", obra-prima do cineasta alemão e vencedora do Festival de Cannes, em 1987. Aqueles anjos apenas e tão-somente, escutam. Numa postura séria, porém compassiva. Ouvir para tentar perceber, para tentar compreender. A dada altura crescemos e ao mesmo tempo deixámos de os ver. Porquê?
andava a balançar os braços,
desejava que o riacho fosse rio e
que o rio fosse torrente e
poça d'água, o mar
Quando a criança era criança,
não sabia que era criança,
tudo era vida e
a vida era uma só!»
Suspensos nos prédios sobranceiros à cidade de Berlim, Damiel e Cassiel captam os diálogos interiores de todos nós. E observam. E acompanham. Apenas interferem no momento que precede a tragédia. Ou colocam a cabeça do moribundo no seu colo, quando a mesma se desenlaça. A função dos anjos do cineasta Wenders, figuras mudas nos seus sobretudos de Inverno, é registar as Eras e, mais uma vez, compreender de que modo a humanidade usa o tempo legado sobre a Terra, como combate e ama, como desafia a morte e abraça a vida.
Numa versão mais literal, temos o Anjo cristianizado que ampara e protege. Não se limita a escutar os pensamentos, como também nos sussurra ao ouvido antes de atravessarmos a rua. No instante seguinte passa por nós um camião desgovernado. Foi Deus, dizemos. Mas foi o Anjo, o anjo-da guarda que nos segura à beira do precipício. O anjo-fada Oriana, que tendo perdido as asas (mor do seu egoísmo), mesmo sem elas atira-se ao vazio para salvar uma velha cega. Sophia de Mello Breyner Andresen, o anjo da poesia.
Certa Encantadora de Anjos disse-me: os anjos choram. E choram porquê? Fazemos mal a nós próprios por simples sonegação da sua presença. Esquecemo-nos deles quando mais precisamos dos seus sinais, dos seus murmúrios de aviso trazidos pelo vento que agitam as folhas nos ramos. Quando o luar de Junho se levanta, a sombra do Anjo atravessa o disco branco nós, incautos, não o vemos. O nosso olhar está focado em tudo, menos no que acontece acima da linha do horizonte. Enquanto fazemos deslizar os dedos pelos nossos écrans tácteis, um Anjo espreita sobre o nosso ombro. A tentar compreender o motivo de tanto fascínio. A ouvir sem entender.
Estes anjos estão todos no desemprego. Sentem-se substituídos por deuses menores.
Estes anjos estão todos no desemprego. Sentem-se substituídos por deuses menores.
Sentado numa biblioteca ou à uma mesa de um café, choramos mágoas e arrependimentos. Enquanto isso, filas e filas de anjos desempregados e deprimidos dão a volta às esquinas infinitas do Tempo, aguardando um sinal. O nosso sinal: vem, preciso de ti. Preenche-me de Amor.
De regresso ao filme de Wenders, apenas as crianças percebem a presença dos anjos. Aliás, o filme tem início com a voz de Damiel (Bruno Ganz) a recitar "Lied Vom Kindsein" - Canção da Infância, de Peter Handke:
(...)
Quando a criança era criança,
era o tempo destas perguntas:
Porque eu sou eu e não tu?
Porque estou aqui e não ali?
Quando começou o tempo, e onde termina
o espaço? Será que a vida sob o sol nada
mais que é um sonho? Será que o que vejo
escuto e cheiro não é mais do que uma miragem
do mundo anterior ao mundo?
Será que o mal realmente existe
e pessoas realmente más?
Como é possível? Eu que sou eu, não existia
antes de existir e que alguma vez eu,
aquele que sou não serei mais quem sou?
(...)
Quando a criança era criança
arremessou uma lança de madeira contra uma
árvore ainda balança na árvore até hoje.»
São as crianças, as mais pequenas, ainda a contratar os anjos. Sei de uma que ficava a olha para o ar e, de repente, apontava para algo invisível: está ali! Está ali! Um dia permiti-me olhar na direcção do pequeno dedo. E vi-o. Sim, vi-o. Usava um sobretudo escuro e olhava-me com amor.
Os meus anjos ainda choram pelo desejo de me serem úteis. São as asas do desejo que adejam em meu redor, o vento através das folhas, o suspiro de um velho no banco de jardim, o ruído da janela que se abre sobre o mar imenso. O Antes, o Agora e o Depois. O Devir. Quando tudo era Vida e a vida era uma só. Quando pessoas e anjos eram apenas um.
Caras amigas formigas: estamos sempre a tempo de sairmos do carreiro e elevar os olhos dos nossos écrans tácteis. Desse encantamento que nada traz de religioso, apenas uma fraca compensação por termos banido os anjos dos nossos abraços. Quando o nosso olhar se cruzar com o anjo à nossa mesa (Jane Campion), contactaremos, enfim, com todo o Universo.
Devido à temática, sinto este post de maneira especial. Anjos no desemprego é uma grande metáfora. Quase diria que se os anjos tivessem emorego, caiam-lhe as asas.
ResponderEliminarDevido à temática, sinto este post de maneira especial. Anjos no desemprego é uma grande metáfora. Quase diria que se os anjos tivessem emorego, caiam-lhe as asas.
ResponderEliminarVisita meu blog: www.assuntodehumanos.blogspot.com
ResponderEliminarCU DO MULHERES BOAS!!!!
ResponderEliminarporno no cu
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porno no cu
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CU HINCHADO E MUITO, MUITO DESGRACIADAS!
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