sexta-feira, 3 de abril de 2015

A Linguagem é uma pele

A emoção de ser o outro

«Esfrego a minha linguagem contra o outro. É como se tivesse palavras em vez de dedos, ou dedos na ponta das minha palavras.» (R. Barthes)

Podemos amar o Outro sem nunca termos trocado um único beijo? A esta pergunta tenho somente uma resposta: tudo pode acontecer, mesmo sem ter acontecido, pois a memoria constrói-se com esta força fragil, porém infinita dos nossos afectos. Uma força tão poderosa que percorre toda a narrativa do discurso amoroso e o resultado são as distorções da memória. No fim de tudo, obteremos, não factos, mas uma ficção sobre o que fomos, o que sentimos, em último caso o que inventámos acerca da nossa história com o Outro. Uma ficção, apesar de tudo, útil - a distorção dos factos ajuda -nos, enquanto narrativa, a construirmos a identidade que mais nos serve, a pele certa para a nossa carne, ossos e sangue. Em último caso, a distorção devolve-nos a  liberdade de uma reconstrução de nós, alicerçada  numa verdade só nossa, indesmentivel, para além de factos e omissões. Amigas formigas, assim sendo, o amor é a melhor invenção de todos os tempos! Recordo o filósofo e semiótico Roland Barthes (1915-1980), numa das suas obras emblemáticas, Fragmentos de um discurso amoroso"(Lisboa, Edições 70). Porque a linguagem é a minha pele e, como ainda diria Barthes, a linguagem do amante "treme de desejo" e afecta o Outro. Seja ele quem for. Na esteira de Barthes, a solidão extrema é o que me faz inventar uma trama com duas personagens envolvidas pela loucura do amor. E sentir a emoção de ser o  Outro nessa mesma e poderosa narrativa.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Portal:Filosofia

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