domingo, 3 de maio de 2015

A minha vida sem Bordallo

http://pt.bordallopinheiro.com/
A folha de couve. As andorinhas. O Zé Povinho. Rafael Bordallo Pinheiro (1846-1905), mestre do desenho humorístico (hoje diríamos cartoonista ), fundou a 30 de Junho de 1884 a Fábrica de Faianças das Caldas da Rainha. Dali saíram centenas e centenas de modelos de cerâmica artística, todos criados pelo seu génio. As peças do imaginário,  de inspiração naturalista, entraram nas casas dos Portugueses pela porta do orgulho - lembro-me de muita gente, familiares e amigos, mostrarem as loiças com a marca "Bordallo Pinheiro" inscrita na base, assegurando o visitante que, naquela casa (portuguesa com certeza), não se aceitavam imitações.

Em 2008 visitei a fábrica caldense, num dos piores momento da sua existência. Pareceu-me um espaço abandonado de um dia para o outro, devido a ameaça de bomba. Moldes, utensílios, desenhos, tudo quieto nas grandes mesas. À espera de um resgate que nunca mais vinha. Ao ver a loja aberta, adquiri um serviço de pratos; não fosse a fábrica fechar de vez e eu ficar sem o meu Bordallo de honra à vista no meu louceiro. Confesso: aproveitei  a semi-desertificação do lugar para meter o nariz em tudo. Por ali deambulei por mais de uma hora. Imaginei que tipo de operários possuíam a capacidade de trabalhar naquelas peças. Apenas alguns e muitíssimo especializados. Felizmente, as sua mãos amorosas regressaram, graças a um grupo privado (e não ao Governo, esse trapalhão, quando se trata de preservar Património), o qual recuperou a fábrica, assegurando a continuidade da produção. 

Não é necessário ir às Caldas da Rainha para conhecer a extensíssima obra de cerâmica de Bordallo, no seu esplendor criativo, provocador e de uma excentricidade ímpar. Em Lisboa, em pleno Campo Grande, existe o Museu Bordallo Pinheiro, uma das jóia museológicas da Câmara Municipal.

Todos os dias tomo as minhas refeições num dos meus prato Bordallo Pinheiro. Até uma fatia de pizza requentada no microondas ganha ali um outro estatuto. Quando a alma se alimenta de coisas belas e genuínas, comer fast-food torna-se na menor das nossas preocupações.
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2 comentários:

  1. Temos um gosto em comum: A fábrica de louças das Caldas. Quando era miúdo existia alguma lá em casa e eu não ligava nenhuma. Agora queria tê-la e não tenho disponibilidade para a comprar. Também penso que é tem design muito feliz e faz parte do nosso património histórico e artístico. O Columbano também era um grande pintor.

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  2. Olha que não são assim tão caras, já foste ao site?

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