«Eu costumava comprar esses cadernos quando ia a Lisboa. São muito bons, muito resistentes. A partir do momento em que começamos a escrever neles, nunca mais nos apetece escrever em coisa nenhuma.» Paul Auster.
Escrever à mão é bom. Nada é mais rápido do que a mão humana, quando se trata de fazer correr encantamentos à velocidade do pensamento. Escrevo à mão praticamente tudo - chego a escrever notas manuscritas antes de me sentar diante da tela branca de um futuro post. Parece algo de outros tempos - escrever textos à mão - mas faço-o e tenho um óptimo incentivo para tal: o meu caderno azul. Na verdade, não é apenas um, mas dezenas de cadernos cheios de notas íntimas, formulações de pensamentos, anedotas diárias...enfim, o meu "querido diário" tem a capa azul dos cadernos portugueses da Firmo, os mesmos referidos como jóias de estimação pelo escritor norte-americano Paul Auster. No seu livro, "A noite do oráculo", a personagem-escritor percorre as ruas de Brooklyn em busca do "caderno português". Feita a aquisição, e logo no dia seguinte, a loja do chinês que os vendia encerra sem qualquer explicação. Sidney Orr (o alter-ego de Auster), começa a escrever no caderno português e eis que a sua realidade, sob o misterioso efeito das linhas azuis, entra num labirinto de sonhos.
Neste romance de Auster, o que era aparentemente linear, deixa de o ser. Cada página, uma vez escrita, inaugura uma miríade de mundos alternativos. No fundo, o "efeito caderno azul" de Auster é a metáfora do que é ser escritor - submeter-se à supensão das dimensões do tempo e do espaço, a realidade distorcida ao ponto de nos perdermos num labirinto de possibilidades.
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O caderno azul da Firmo exibe um físico robusto, pela capa dura que o reveste. A encadernação é irrepreensível e as suas folhas, de uma gramagem equilibrada, espessas o suficiente para impedir a repassagem da tinta, sem chegar ao tacto grosseiro. Relançado pela Marca em Janeiro de 2012 na Paperworld, em Frankfurt, 60 anos após a sua criação, de objecto de mercearia de bairro elevou-se a caderno de culto. O blue note de Auster tornou-se no caderno mais português da América.
Um Encantamento a descobrir.
I LOVE 560 |
Também comprei muitos outrora. Agora com a invasão dos moleskines, virei-me para estes modelos. Mas devemos investir em Portugal, por isso vou virar as agulhas para a FIRMO.
ResponderEliminarOra, fazes muito bem. Há que incentivar a produção nacional, principalmente quando é boa!
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